Chasque do Menestrel

Crioulo dos Pampas - 11 anos de Saudade

Crioulo dos Pampas - 11 anos de Saudade

No cenário da música nativista do Rio Grande do Sul, poucos nomes carregam tanto peso simbólico e cultural quanto o de Carlos Roberto Macedo Monteiro, imortalizado sob o nome artístico de Crioulo dos Pampas. No mês de janeiro, completaram-se onze anos de sua partida, mas sua voz segue viva, ressoando nos galpões, nos festivais, nas rodas de mate e nas memórias afetivas de um povo que viu nele a força, a identidade e a alma de um gaúcho negro que ousou conquistar um espaço ainda marcado por velhos preconceitos.

Nascido em 25 de junho de 1947, na cidade de São Gabriel. Acordeonista de mão cheia, cantor e compositor sensível, destacou-se por seu estilo autêntico, com letras carregadas de metáforas, conotação regionalista e profunda conexão com a vida campeira. Gravou 20 discos ao longo da carreira, contribuindo para uma vertente da música gaúcha mais "xucra", visceral e popular.

O sucesso veio com a música "Crioulo dos Pampas", que não apenas batizou um clássico, mas se tornou sua marca para sempre. Outras canções inesquecíveis do seu repertório incluem “Clareando as Coisas”, “Canção dos Tropeiros” e “Botando pra Quebrar” (Música de Paulo Martins e de Crioulo dos Pampas), mas era em “Nego Bom Não Se Mistura” que o público se encontrava com mais fervor, celebrando sua irreverência e identidade com a alma leve e o peito aberto.

Mas a trajetória de Crioulo não se faz só de palco: ela também se faz de parcerias duradouras e fraternas, como a com o saudoso músico tapense Paulo Martins (in memoriam). Juntos, Crioulo e Paulo deram voz a composições que ecoaram nos rincões do Estado e além. Paulo, natural de Tapes, era um trovador, repentista, compositor, grande amigo e parceiro de estrada com quem Crioulo dividiu palcos, estúdios e muitos momentos. Essa irmandade musical entre eles deixou um legado de sonoridade ímpar e de respeito mútuo, que ajudou a escrever páginas importantes da música gaúcha.

Na vida pessoal, aos 42 anos, Crioulo conheceu Iara, irmã de um amigo, durante um baile em Santana do Livramento, cidade fronteiriça com o Uruguai. O encontro foi definitivo. Da união nasceram dois filhos, Sandyara e Carlos Monteiro, o Criolinho dos Pampas, que hoje leva adiante o legado do pai com orgulho e talento. Crioulo era pai também de outros filhos.

Radicado há anos em Gravataí, na Região Metropolitana, Crioulo dos Pampas nos deixou no dia 9 de janeiro de 2014, aos 66 anos, vítima de um ataque cardíaco fulminante. Foi sepultado na cidade que o acolheu em seus últimos anos, mas seu nome continua presente em todas as querências do Sul.

Crioulo dos Pampas não foi só um artista. Foi um símbolo de resistência, de autenticidade, de orgulho da cor e da cultura que o moldaram. E hoje, onze anos depois de sua despedida, seguimos dizendo: "Nego bom não se mistura".